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Justiça Federal em Caxias do Sul tem uma funcionária diferenciada: o cão-guia Ingá

21/09/2022 - 11h52
Atualizada em 21/09/2022 - 11h52
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Quem trabalha ou precisa ir ao prédio-sede da Justiça Federal em Caxias do Sul (RS) pode se deparar com uma funcionária diferenciada. Ingá é uma linda e fofa mestiça das raças Labrador e Golden Retriever, mas, acima de tudo, é o cão-guia da servidora Caroline Domanski Dall Acua. Sempre posicionada ao lado esquerdo de sua tutora, está atenta aos seus comandos e necessidades, por isso Ingá não deve ter sua atenção desviada de seu importante trabalho.

Caroline Dall Acua é servidora da Justiça Federal gaúcha há 16 anos e trabalha na 1ª Vara Federal de Caxias do Sul. Ela tem baixa visão devido à Retinose Pigmentar, uma doença congênita de caráter degenerativo que causa a perda progressiva da visão. Com passar do tempo sua visão foi piorando e nascia o desejo de ter um cão-guia para tornar seus deslocamentos mais seguros e assertivos.

 “Eu não podia imaginar como seria ter a Ingá ao meu lado. Caminhar com o auxílio de um cão-guia é muito diferente de caminhar utilizando a bengala. Ao invés de escanear o trajeto localizando obstáculos para depois evitá-los, eu simplesmente confio no trabalho da Ingá, que responde atenta aos meus comandos. E ela é extremamente cuidadosa.”  

A servidora conta que a rotina com o cão-guia é bem dinâmica. “Ingá me acompanha no trabalho, nas aulas de piano, nas reuniões da startup e na academia. Ela me guia pelos trajetos e, quando chegamos na 1ª Vara, retiro seu equipamento e a libero do trabalho de cão-guia para que ela possa interagir com as pessoas e o ambiente. É sempre muito bem recebida pelos colegas e amigos.”

Formação

O cão-guia possui como missão ajudar as pessoas com deficiência visual a ter uma melhor qualidade de vida, auxiliando na locomoção e na realização de pequenas tarefas, como localizar entrada e saída de prédios, banheiros públicos, acentos vagos, elevadores, escadas rolantes e caixas eletrônicos. Para isso, passam por um rigoroso treinamento, que dura normalmente dois anos, e começa quando ele ainda é um filhote.

O adestramento é composto de três fases: socialização, treinamento e instrução. No primeiro momento, os cachorros convivem com famílias voluntárias para socializarem e aprenderem os cinco comandos básicos: senta, deita, fica, banheiro, seu lugar. Os cães também são expostos a estímulos comuns do dia a dia e a ambientes de uso coletivo para irem se acostumando.

A próxima fase compreende um treinamento específico para guiarem pessoas com deficiência visual, realizado numa escola especializada, onde vão apreender, inclusive, a desobedecer de forma inteligente o usuário em situações que possam colocar em risco sua vida. Por último, o cão-guia é instruído juntamente com seu tutor, pois eles precisam ter uma boa relação, baseada em confiança e respeito, e o usuário precisa também de treinamento para aprender a seguir e a orientar o animal adequadamente.

O treinamento do cão-guia é realizado em institutos especializados, a exemplo do Centro de Treinamento e de Instrutores de Cães-Guia do Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, onde a Ingá foi cuidadosamente treinada.

Infelizmente, o número destes institutos é baixo e, aliado ao fato de o processo de adestramento levar certo tempo, há poucos cães-guia ‘formados’ por ano. Dessa forma, há muita procura e pouca oferta. O tutor que faz a solicitação pode conseguir um cão-guia sem pagar, mas o custo de toda a preparação é extremamente alto para os institutos de treinamento, mais de R$ 35 mil.

A servidora Caroline Domanski Dall Acua conta que se inscreveu em três editais públicos para se habilitar como candidata a um cão-guia. A primeira inscrição em 2014 e as outras, em 2020 e 2021. Foi no último edital, promovido em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro, que ela foi chamada para a formação em dupla com um cão-guia.

“Fui atleta paralímpica do Atletismo de meados de 2018 a final de 2021. Conquistei algumas medalhas em competições regionais nas provas de 100 e 200 metros rasos, atingindo índices para o campeonato nacional. Foi através do esporte que tive acesso à Ingá”.

Ela conta que o processo para obter um cão-guia é longo, envolvendo o preenchimento de diversos formulários, realização de entrevistas e avaliação psicológica e, por fim, o curso de formação de dupla, um procedimento de imersão que dura um mês. “A complexidade do processo se justifica, pois é preciso encontrar um usuário compatível com o cão-guia disponível. Altura, peso, perfil comportamental e velocidade de passada são avaliados e precisam ser compatíveis para que a formação da dupla seja possível”.

Para poder guiar uma pessoa com deficiência visual, o cão precisa reunir algumas características: ser inteligente, dócil e ter médio ou grande porte, pois precisa de força e vigor físico para guiar os humanos. Além disso, ele precisa apresentar “vontade de servir”, no caso, de guiar. As raças mais utilizadas para ser cão-guia são Labrador e o Golden Retriever.

Profissão

Cão-guia é uma profissão e, consequentemente, o animal que passa a trabalhar nela tem suas responsabilidades. Entre elas, pode-se citar ficar sempre à esquerda de seu tutor e se manter um pouco à frente; não se deixar distrair com estímulos externos (cheiros, comidas, pessoas); e ao entrar no elevador, deixar o tutor perto do botão.

O animal também deve ser capaz de atravessar uma rua na faixa de pedestres e ouvir o som dos carros. Além disso, deve andar sempre no meio da calçada, desviando de objetos e escolher um espaço que ele e o tutor caibam.

Por estar a trabalho, o cão-guia tem permissão legal para entrar em qualquer ambiente que o seu tutor precise ou queira frequentar. A lei nº 11.126/05 garante este direito à pessoa com deficiência visual.

Como toda profissão, o cão-guia também se aposenta quando fica mais velho e começa a perder algumas habilidades, como audição e visão, e apresentar dificuldades para realizar tarefas simples. Geralmente, a aposentadoria chega por volta dos dez anos. Entretanto, estando saudável e mostrando vontade de guiar, seu tempo de serviço pode se estender.  

O trabalho executado pelo cão-guia reflete positivamente na qualidade de vida das pessoas com deficiência visual. Caroline Dall Acua afirma que a importância de Ingá em sua vida é imensurável.

“Ela me acompanha em quase todas as minhas atividades. Ter ela ao meu lado é ter liberdade e autonomia. É ser mais segura e assertiva. É ter ao lado uma companheira amorosa e carinhosa por quem sou apaixonada. É, sem dúvida, ser mais feliz.”

 


a foto mostra Caroline, uma mulher jovem, de cabelos castanhos compridos, sorrindo. Ela está com os joelhos apoiados no chão ao lado da cachorra Ingá, que é preta
O cão-guia Ingá passou por um rigoroso treinamento para poder atender sua tutora